Texto Inicial do Projeto de Lei
PROJETO DE LEI Nº 789/2021
EMENTA:
DÁ O NOME PROFESSORA HELEY DE ABREU SILVA BATISTA A UMA UNIDADE ESCOLAR INOMINADA DA REDE DE ENSINO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO |
Autor(es): VEREADOR CARLOS BOLSONARO, VEREADOR DR. ROGERIO AMORIM, VEREADOR MARCOS BRAZ
A CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
D E C R E T A :
Art. 1º O Poder Executivo dará o nome Professora Heley de Abreu Silva Batista a uma unidade escolar inominada da Rede de Ensino da Secretaria Municipal de Educação, SME, da Cidade do Rio de Janeiro.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Plenário Teotônio Villela, 19 de outubro de 2021
JUSTIFICATIVA “O professor, cujo dia será comemorado no próximo dia 15, tem como missão a arte de ensinar. Mas a professora Heley Abreu Batista, de 43 anos, foi muito além disso: uma verdadeira heroína. Ao tentar salvar seus alunos e lutar contra o vigilante Damião Soares dos Santos, de 50, que ateou fogo na creche Gente Inocente, na manhã de quinta-feira, em Janaúba, no Norte de Minas, ela sacrificou a própria vida em defesa das crianças e, com isso, impediu que a tragédia que chocou o Brasil e o mundo fosse ainda maior.
Na tarde de ontem, subiu para 10 o número de vítimas mortas na tragédia: oito crianças e Helley. O autor da agressão também morreu. O corpo de Heley foi enterrado na tarde de sexta-feira, em Janaúba, com o velório sendo acompanhado por centenas de pessoas. O corpo foi traslado até o cemitério em um carro aberto do Corpo de Bombeiros e enterrado sob aplausos. Ela deixou três filhos: Breno, de 15, Lívia, de 12; e o bebê Olavo, de um ano.
Uma profissional dedicada, cujo empenho transcendia o salário de cerca de R$ 1,5 mil como professora municipal em Janaúba. Esse é o perfil de Heley Abreu, que, devido à sua bravura e coragem, ganhou o noticiário do Brasil inteiro pelo esforço que desempenhou na tentativa de salvar as crianças do incêndio na creche, o que acabou levando à perda de sua vida.
Heley foi uma pessoa marcada pela superação. Integrante de uma família de três irmãos, ela nasceu em Montes Claros (cidade polo do Norte de Minas) e, ainda na juventude, mudou-se para Janaúba, onde o pai, João Rodrigues da Silva (já falecido), arrumou um emprego numa loja de móveis. Com pouco mais de 20 anos, casou-se com Luiz Carlos Batista. Ainda na juventude, experimentou uma grande tragédia pessoal. Durante uma festa de carnaval, foi com a família para um clube no balneário Bico da Pedra, onde o primeiro filho dela, Pablo, de 5, morreu afogado na piscina do clube. “Foi muito difícil. Todo mundo da família ficou muito chocado. O meu cunhado até pensou em fazer uma besteira. Mas a Heley superou”, relembra o serralheiro Paulo Rogério Abreu, irmão da professora heroína.
Com a perda da irmã, Paulo Rogério ficou desconsolado. “Não tem o que falar. Não tenho palavras para dizer, (a morte de Heley) é uma coisa muito trágica. Ninguém esperava que pudesse acontecer. Ela também não merecia uma coisa dessa. Ela era realmente muito dedicada à família e ao trabalho”, disse.
DEDICAÇÃO
Formada em pedagogia, Heley começou a trabalhar há alguns anos como professora municipal em Nova Porteirinha, separada de Janaúba pelo Rio Gorutuba. Inicialmente, trabalhou na zona rural, numa comunidade chamada Dengoso. Depois, trabalhou na Escola Estadual Luzia Mendes, no Bairro Dente Grande, área de baixa renda de Janaúba. No ano passado, começou o serviço na creche Gente Inocente, no Bairro Rio Novo, em Janaúba, fazendo aquilo de que mais gostava: dedicar-se às crianças. Morava em Nova Porteirinha e todos os dias atravessava a ponte sobre o Rio Gorutuba para cuidar de “suas crianças”, como as considerava. Não gostava de faltar ao trabalho. Também fez curso de especialização na área educacional, buscando conhecimento na área da inclusão de pessoas com deficiências.
No enterro de Heley, o marido dela, Luiz Carlos Batista, fez aumentar a emoção, quando, aos prantos, encontrou forças para mencionar as qualidades da mulher. “Ela se foi por salvar vida das crianças. Acho que a missão dela era esta, salvar vidas. Mesmo sofrendo, eu tenho que aceitar. Foi por obra de Deus. E Deus é justo”, afirmou Luiz Carlos. Ele afirmou que Heley considerava os alunos da creche como verdadeiros filhos, “embora eles não fossem filhos biológicos dela”.
Luiz Carlos também contou que, na véspera da tragédia, uma amiga de Heley disse que ela não deveria ir na creche no dia seguinte, porque estava muito rouca. “Mas ela respondeu: ‘Eu tenho que ir para cuidar dos meus (as crianças). Não posso faltar”, completou o marido de Heley. Nos últimos dias, a professora também estava muito emotiva por causa das comemorações da Semana da Criança.
Reconhecimento de amigos e colegas
“Ela era uma pessoa muito dedicada. Adorava o que fazia. Nasceu para ser professora. Nem parecia que tinha enfrentado algum sofrimento na vida”, afirma Elizabeth Fernandes, colega de trabalho e muito amiga de Heley, referindo-se ao episódio vivido por ela com a perda do filho Pablo. “A Heley sempre andava com um sorriso no rosto”, completa Elizabeth. Segundo ela, ultimamente, a professora estava muito feliz com a proximidade da realização de um sonho: a formatura do marido no curso de odontologia.
A professora Eunice Batista Borges é outra que enaltece as qualidades da colega morta na tragédia em Janaúba. “Ela era uma pessoa muito prestativa. Era uma pessoa excelente, muito companheira mesmo”, diz. “A Heley era uma pessoa exemplar, amiga de todos os momentos, das horas boas e das horas difíceis também”, destaca Silvinha Ferreira, também professora na cidade.
As colegas de trabalho da professora Heley na creche Gente Inocente também enalteceram o trabalho e companheirismo da heroína. “Era uma pessoa que tinha muito amor pelas crianças. Além disso, era muito responsável”, afirmou a pedagoga Eliane Santos, que na quinta-feira, dia do ataque à creche, estava de folga e não foi ao trabalho.
A auxiliar Mirele Brito, também funcionária da creche, enche Heley de elogios. Mirele conta que, na quinta-feira, Heley estava muito alegre. “Ela disse que iria brincar com as crianças e ensinar zumba para elas”. Infelizmente, a dança não ocorreu. Mirele trabalhava na creche no dia da tragédia e escapou porque estava com um grupo de crianças, “que tomavam banho de mangueira” após brincadeira em cama elástica, no pátio do centro de educação infantil.
A coragem e bravura da professora Heley Abreu também impressionou os moradores de Janaúba. “Acho que ela foi uma guerreira, uma heroína, que realmente morreu por lutar no meio do fogo para defender as crianças”, disse o pedreiro Arley Aves, de 31, que também ajudou a salvar as crianças da creche durante o incêndio. Arley conta que a professora poderia “ter saído correndo” quando viu as chamas dentro da sala de aula. “Mas, ao contrário, ela permaneceu lá, ajudou a salvar as crianças e enfrentou o cara (o vigilante Damião). Por isso teve o corpo todo queimado.
A aposentada Maria Aparecida Miranda, moradora do Bairro Rio Novo, onde fica a creche e também local de moradia de grande parte das vítimas da tragédia, disse que não conheceu a professora Heley, mas está rezando muito por ela. “Com certeza, ela será muito recebida por Nossa Senhora no céu”, disse Maria Aparecida. E assim Heley partiu como heroína. Ganhou o céu e deixou um grande exemplo de luta e amor às crianças.”