Comissão Permanente / Temporária
TIPO : DEBATE PÚBLICO

Da VEREADORA TAINÁ DE PAULA

REALIZADA EM 06/05/2024


Íntegra Debate Público :

ÍNTEGRA DO DEBATE PÚBLICO REALIZADO EM 5 DE JUNHO DE 2024

(Meio ambiente e direito à cidade: adaptação urbana e participação social no enfrentamento às mudanças climáticas)

Presidência da Sra. Vereadora Tainá de Paula.

Às 19h20, no Plenário Teotônio Villela, sob a Presidência da Sra. Vereadora Tainá de Paula, tem início o Debate Público com a finalidade de discutir o tema “Meio ambiente e direito à cidade: adaptação urbana e participação social no enfrentamento às mudanças climáticas”, com entrega de Moções de Reconhecimento e Louvor a diversas personalidades, em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente.



A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Senhoras e senhores, boa noite!
Peço perdão, licença, agô pelo nosso atraso. Antes tarde do que mais tarde.
Dou por aberto o Debate Público com o tema “Meio ambiente e direito à cidade: adaptação urbana e participação social no enfrentamento às mudanças climáticas”. Faremos também a entrega de Moções de Reconhecimento e Louvor a diversas personalidades, todas de minha autoria.
A Mesa está assim constituída: Senhor Lennon Medeiros, fundador da Visão Coop e Coordenador no Startup20; Senhora Naira Santa Rita, fundadora e diretora executiva do Instituto DuClima; Senhora Mariana de Paula, cofundadora e diretora de operações do LabJaca; Senhora Maria Clara Salvador, ativista climática, representante da Agenda Queimados 2030 e cofundadora da coalizão O Clima é de Mudança; e o Subsecretário de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro, Senhor Artur Miranda Sampaio, nosso companheiro também de bancada.
Tenho a honra de registrar as seguintes presenças: Senhora Danielle Reis, Subsecretária de Gestão da Secretaria de Meio Ambiente; Senhora Glaucia Sousa, Coordenadora do projeto Pescando Resíduos da BV Rio (Bolsa Verde Rio); Senhor Abílio Valério Tozini, representando a Associação de Moradores da Lauro Müller e Adjacências e o Conselho de Representantes da FAM-Rio; Senhor Christian Oliveira, representando o Instituto Clima e Sociedade; Senhor Matheus Pereira, fundador do Instituto do Clima; Associação de Mulheres do Complexo do Alemão; Senhora Flavia Souza, representando o grupo Afrolaje; os representantes do Instituto PerifaLAB; nossa querida ex-deputada Áurea Carolina, maravilhosa; e Senhor João Victor Teodoro, fundador do projeto PPG Social e Diretor do Museu de Favela. Obrigada, João Victor. Ontem vi um vídeo seu inspirador.
Quero começar nossos trabalhos aqui na Mesa com o Senhor Lennon Medeiros, falando um pouco dessa trajetória e da contribuição para o Debate.

O SR. LENNON MEDEIROS – Boa noite a todas e todos.
Acho que é um grande desafio começar uma Mesa tão prestigiada, com trabalhos que a gente admira tanto. Sobretudo, quero agradecer pelo espaço. Vejo tantos rostos conhecidos. Acho que a gente fica feliz de reconhecer que a gente constrói aqui uma estratégia coletiva para regeneração.
Quero começar dizendo que, para mim, existem quatro temas fundamentais a trabalhar nesta conversa. Acho que o primeiro de todos é a palavra “regeneração”. Aí, sim, acho que faz sentido falar sobre direito à cidade e, consequentemente, de participação e dos esforços que a gente tem usado com tecnologias para isso.
Começo com essa palavra – regeneração –, porque para mim é muito importante que a gente supere um discurso que se concentra na ideia de sustentabilidade. Era possível falar de sustentabilidade quando existia a ideia de que dava para consumir os recursos do planeta e haveria mais recursos se a gente conseguisse equilibrar a necessidade de desenvolvimento com o que, de fato, a Terra dá. Aí estava beleza, a gente podia fazer desenvolvimento e colocar a iniciativa na rua. Agora o que está muito objetivo, o que está muito nítido nos eventos extremos que a gente está vivendo nos últimos anos é que não existe discussão possível que não seja uma discussão que envolva essa ideia de regeneração.
É importante começar a olhar para os nossos territórios como espaços que precisam de uma retomada verde, de uma retomada das qualidades naturais que existem nesse espaço.
A gente cresceu – principalmente quem é de favela, quem é de periferia – com projetos como PAC, projetos que tinham na sua principal ideia um processo de que a modernização estava associada ao concreto. Então eu substituía uma área verde por um grande bloco de cimento. E o que a gente está descobrindo é que não existe cimento que absorva água suficiente para lidar com os desafios das enchentes.
Então, ao olhar para esses espaços, a gente precisa começar a pensar que a melhor para uma cidade adaptada não é pensar em bombas que tenham a capacidade de sucção extraordinária, não é pensar em um sistema de máquinas de cimento que dê conta desse desafio. A gente tem, sim, a necessidade de usar uma série de tecnologias em favor desses esforços, mas a melhor tecnologia possível é a planta. O diamante não é raro no universo, tem diamante, tem ouro em abundância nesse universo. O que tem em muita raridade é a planta, é uma capacidade única que outros organismos, afora a vida humana, têm de se unir. Cara, como é bonito você estudar ecologia e descobrir a aliança que existe entre plantas e fungos. Que massa isso! Como é interessante descobrir que a maior capacidade de captura de carbono aconteceu na Terra no momento em que a... falou assim: “Cara, e se eu fizesse amizade com essa árvore?” Acho que a gente precisa entender que, hoje, as iniciativas existentes em favela, como as iniciativas de teto verde e as iniciativas de reflorestamento, são a melhor alternativa para construir processos de uma cidade adaptada.
Não é por coincidência que as regiões com maior índice de áreas verdes são regiões com alto poder aquisitivo, alto poder econômico. A gente precisa começar a se perguntar por que ao povo favelado, por que ao povo preto, por que ao povo indígena e ao povo de periferia está sumariamente negada a posse aos espaços de terras e proporções verdes.
Ao olhar para esses esforços, a gente acredita que mais legal que falar de uma inteligência artificial generativa é falar sobre uma inteligência regenerativa. A gente tem feito esses esforços na Visão Coop, a gente tem feito esses esforços na Coalizão O Clima de Mudança, a gente tem feito esses esforços na Confluência Nacional de Favelas. Mas não são esforços suficientes. É duro dizer isso, é duro dizer que as pessoas que estão aqui sentadas diante de vocês não têm as soluções para resolver todas as questões iminentes nesses territórios. Quando alguém me pergunta se esses esforços seriam suficientes para mitigar uma crise como a que está acontecendo no Rio Grande do Sul, a gente precisa ser realista e dizer que não. Não podemos romantizar nossa capacidade de produzir mitigação, nossa capacidade de produzir adaptação, como se conseguíssemos, hoje, dar conta dos desafios que têm por aí. Isso é drástico, mas é necessário.
Nós tivemos 10 anos entre o momento em que os cientistas disseram que aconteceria o que aconteceu no Rio Grande do Sul e o momento que estamos vivendo agora. Por isso, a gente precisa se perguntar que relatórios existem, hoje, publicados que já preveem o que vai acontecer nesses territórios e favelas.
Eu sou da Baixada Fluminense. No ano passado, a gente viu que, no relatório do IPCC, a previsão é de que as mudanças climáticas que a gente já vive nesses territórios seriam imensamente agravadas. A gente precisa se perguntar quais são os esforços que as Prefeituras e o Governo do Estado estão fazendo para que haja, de fato, políticas públicas para adaptação nesses lugares.
Por isso, fico muito feliz por estar compondo esta Mesa hoje. Acho que temos aqui especialistas, pessoas que, sobretudo, têm uma grande capacidade de construir participação em uma outra forma, porque participação não pode ser mais consultar como alguma coisa deveria ser feita nesses territórios. Uma participação verdadeira é uma gestão territorial compartilhada com os moradores, que sabem quais são os problemas e principalmente sabem o que fazer. Obrigado.
(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Muito obrigada, Lennon. Passou da hora de sermos protagonistas das nossas histórias.
Quero passar agora à Senhora Naira Santa Rita, fundadora e Diretora Executiva do Instituto DuClima.

A SRA. NAIRA SANTA RITA – Obrigada, Tainá. Boa noite a todas, todos e todes. Estou muito feliz de estar aqui. Falo enquanto especialista em clima e sustentabilidade. Também sou sobrevivente e deslocada climática do evento extremo de Petrópolis e, desde então, venho atuando em uma agenda propositiva de soluções para pessoas e territórios, vindas da experiência de uma pessoa que sobreviveu a um evento climático extremo.
No Instituto DuClima, trabalhamos diversos pilares com ênfase no protagonismo da sociedade civil. Porque entendemos que o racismo ambiental, como nosso colega Lennon falou, também é exclusão nesse espaço de formulação de política, é o ambiente ecologicamente saudável negado para as comunidades periféricas, povos indígenas e quilombolas, que vêm, nos últimos anos, sofrendo para ter suas terras demarcadas, suas culturas preservadas. Então, você vê que é uma violação sistêmica de muitas coisas.
Ao trazer, no Instituto DuClima, a proposta de colocar a sociedade civil como protagonista, a gente inverte uma lógica, de retomar aquela frase que a gente sempre fala de o poder ser do povo. Então, a gente vem fazendo isso através de diversas medidas. No ano passado, a gente fez uma incidência na medida provisória do Programa Habitacional Minha Casa, Minha Vida para que se pudesse ter critério de prioridade de acesso a esse programa para vítimas de eventos climáticos extremos, para pessoas residentes em áreas de risco, que, quando vivenciam um evento climático extremo, entram em profunda vulnerabilidade e não têm como se reerguer sem a ajuda do Estado, do Município e da União. A gente entendia como um grande retrocesso o fato de não ter esse critério, porque a moradia digna é o direito constitucional mais violado no país, com tantas pessoas, hoje, em áreas de risco, em áreas insalubres. Quando a gente analisa, um movimento beneficia centenas de milhares de pessoas, inclusive minha família, que eu tive o prazer, no ano passado, através dessa incidência, de conseguir adquirir minha casa própria, junto com a minha mãe, logo após vivenciar um evento climático extremo.
É sobre essa ressignificância de nós estarmos nos espaços de incidência, nos espaços de formulação de políticas públicas para que não seja mais nada sobre nós sem nós.
Quando falamos do acesso ao ambiente saudável, ao ambiente seguro, ao ambiente que seja proporcionado para todas as nossas crianças das comunidades e periferias é também falar de justiça social, é falar de justiça ambiental. Nós estamos também com a primeira pesquisa nacional com foco em mapeamento das desigualdades socioambientais e climáticas, é a primeira pesquisa junto com diversos ministérios, com a ActionAid também, que está aqui como correalizadora, trazendo uma visão nacional, a primeira pesquisa que vem como uma demanda da sociedade civil, mostrando para o governo que precisamos de dados, e esses dados precisam vir do território. Porque ninguém melhor do que as pessoas que estão no território para poder trazer suas demandas.
Então, não podemos inverter a lógica de tirar o protagonismo de quem tem que estar nos espaços de formulação e de incidência. Convido a todos também a participarem. Nós abrimos uma chamada pública para a sociedade civil, na semana passada, em Brasília. E a pesquisa será lançada ainda este mês, no final do mês.
É esse espaço de a população, de forma ativa, participar de todos os processos, assim como o projeto de lei que protocolamos recentemente com a Deputada Erika Hilton, com foco na política nacional de deslocamento climático para poder fazer valer toda essa jornada do ciclo de desastres, de pessoas que entram em profundo estado de vulnerabilidade, assim como eu e minha família passamos, sendo forçadas a se deslocar por conta de um evento climático extremo.
No Rio Grande do Sul, hoje, vemos milhões de pessoas que não poderão voltar para seus territórios. Precisamos entender a crise do clima como uma crise de direitos humanos sem precedentes. Então, nós temos que ter um olhar para com as pessoas e é isso que o Instituto DuClima traz, principalmente empoderando as comunidades a estarem no centro de formulação, de decisão e de negociação. É preciso lembrar que não podemos esperar que as coisas aconteçam, que vão tirar a cadeira para sentarmos.
Então, a gente precisa ocupar esses lugares, porque as decisões nos afetam. Então, por estar aqui partilhando, junto com pessoas que admiro, fico muito feliz. É um dia muito simbólico. Eu sinto como um movimento de retomada. Espero muito que, juntos, trazendo o protagonismo para a sociedade civil, para os territórios, para as pessoas, a gente consiga ter o enfrentamento da crise do clima de forma efetiva, de forma justa, de forma antirracista.
Muito obrigada.
(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Muito bem, Senhora Naira, obrigada pela presença.
Agora, eu gostaria de passar para a Senhora Mariana de Paula, cofundadora e diretora de operações do LabJaca.
Bem vinda.

A SRA. MARIANA DE PAULA – Boa noite, gente.
Primeiramente, quero agradecer pelo convite e agradecer também à Tainá por ter aberto essa porta para trazermos esse debate, que é extremamente importante. A pauta climática é extremamente necessária. Acho que por muito tempo ela foi excluída, distanciada da população negra, distanciada da população periférica.
Por muito tempo a gente olhou essa discussão de meio ambiente e clima com a discussão do WWF, do urso polar, que a gente precisa proteger, aquela imagem ali, muito simbólica do urso em cima da calota polar, pensando que o aquecimento global estava ali muito distante, pensando que o aquecimento global estava muito distante, a pensar o derretimento dessas calotas polares, enquanto a gente está aqui no dia a dia, no território, na base, vendo essa população sendo acometida diariamente pela desigualdade, pela falta de direito à cidade, falta de direito à políticas públicas.
A gente olha para os dados que o mapa da desigualdade da Casa Fluminense trouxe: metade da população do estado está exposta a deslizamento, crise climática. A gente está num momento único de frear – vou ficar atenta ao horário. O Secretário da ONU disse que nós somos a última geração que pode frear essa crise global.
Mas faltam também um entendimento e uma clareza, na verdade, uma explicação e uma amostragem desses dados, amostragem dessa realidade, dessa roupagem, para que haja também esse engajamento. É necessário que as portas sejam abertas para que a gente também se coloque enquanto detentores desse conhecimento, assim como as discussões ocorrem de uma maneira que existe uma hierarquização muito forte dos saberes: é só a academia que sabe, só os cientistas que sabem, são eles que têm a solução.
É só olhar para essa Mesa, composta majoritariamente por pessoas negras, olhar para esse Debate Público que está sendo construído aqui. As soluções não só de negócios, mas soluções de políticas, soluções de possibilidades, estão sendo desenvolvidas pelas mesmas pessoas que são historicamente, sistematicamente vulnerabilizadas, historicamente acometidas pela crise climática. Dentro dessa realidade, por estarmos sistematicamente acometidos por essa realidade, a gente já desenvolveu alguma solução. Pode ser que ela não seja melhor. Pode ser que ela não se encontre no melhor modelo. Mas a gente desenvolveu uma solução porque a gente está procurando meios de sobreviver. E para isso acontecer, a gente está pautando soluções.
Então, é necessário, olhando para essa participação social, que a gente consiga abrir espaços. Uma coisa tem me incomodado muito: essa participação social. A gente tem um governo progressista hoje, pautando em todos os espaços a participação social. Você senta na cadeira para o Conselho, senta ali, senta aqui. Mas, de fato, quais são as contribuições que estão sendo dadas? Porque a participação envolve também escuta ativa, envolve um processo de trazer e valorizar esse saber que está sendo acometido. É o momento de a gente fazer isso na prática. Que haja essa inclusão e que haja essa participação. Que haja espaço para a gente ser escutado, para que as nossas soluções sejam trazidas.
Uma coisa me chamou muito a atenção: eu fiquei pensando o que era direito à cidade. A primeira definição que aparece no Google – porque a gente parte de uma particularidade: quando penso em direito à cidade, eu penso muito sobre as possibilidades dos acessos, espaços que pude ocupar enquanto estava exigindo para esse lugar, muito numa perspectiva da cultura, numa perspectiva dos espaços. A definição que está aí atrás é de ser um direito difuso e coletivo, de natureza indivisível, de que são titulares todos os habitantes da cidade, das gerações presentes e futuras. Direito de habitar, usar e participar da produção de cidades justas, inclusivas, democráticas e sustentáveis. Então, como que a gente oportuna isso? Como a gente faz com que isso aconteça? Como a gente tem esses mesmos espaços, essas mesmas construções sendo feitas, em que a gente, de fato, tem essa participação e que, de fato, as demandas da população periférica sejam trazidas, que sejam consideradas como dados? A gente precisa trazer também um rosto para esse dado, pensar o que esse dado está querendo comunicar, quais são as populações que são mais acometidas por esse dado, porque o dado sem um rosto, sem uma cara, ele é só um número. E o que esse número quer dizer? O que a gente fala quando 56% da população brasileira é uma população negra e que a gente é maioria e que a gente pode e é capaz de definir estratégias?
A gente está aqui junto, pensando em soluções que devem ser consideradas e escutadas no desenho dessas soluções. Então, acho que olhar para o direito à cidade, essa participação social no enfrentamento às mudanças climáticas, é também pensar em como a gente desconfigura essa nova roupagem que o racismo ambiental e climático tem de tirar a gente desses espaços, de não permitir que a gente sente aqui. Eu estava comentando que é a primeira vez que eu entro na Câmara Municipal. Eu me sinto extremamente honrada de estar à Mesa que Tainá de Paula, Felipe, Artur e meus colegas que abrem os caminhos para que a gente esteja aqui. Eu, que tenho só 30 anos, fico ali nessa disputa se sou velha ou nova. Mas é a primeira vez também que tenho o direito à cidade e de ocupar essa cadeira. Isso também é o direito à cidade, de a gente trazer aqui nossas demandas, pensar essas soluções.
Então, fico muito feliz, me sinto muito honrada e agradecida por estar aqui nesse novo modelo, nessa nova proposta. E que a gente consiga trazer temas tão importantes e necessários de serem nomeados, que são o racismo ambiental, o racismo climático, a justiça climática, a adaptação das cidades e que a população preta, população periférica, seja considerada no desenho da construção de políticas públicas de maneira efetiva, de maneira que a gente sente em espaços como esses, em cadeiras como essas, e consigamos, então, trazer e contribuir de maneira tão rica também na discussão.
Então, muito obrigada, gente.

(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Muito bem, Sra. Mariana de Paula. Obrigada pela fala potente. Quero registrar a presença do Sr. Luan Cazati dos Santos, articulador social do Engaja Mundo. Obrigada pela presença.
Quero aproveitar e passar a palavra para a Sra. Maria Clara Salvador, ativista climática, representante da Agenda Queimados 2030 e cofundadora da Coalizão O Clima é de Mudança.


A SRA. MARIA CLARA SALVADOR – Olá, boa noite.
Eu me chamo Maria Clara Salvador. Eu gostaria de agradecer o espaço, Tainá. Eu sou uma mulher negra, cabelo cacheado solto, blusa branca e uma blusa branca em cima, como se fosse um casaco.
Eu gostaria de falar da experiência da Coalizão O Clima é de Mudança como uma experiência de coalizão que visa à promoção e implementação de soluções sustentáveis a partir da periferia. Então, é a periferia promovendo e implementando soluções sustentáveis.
Eu gostaria de falar hoje também sobre justiça climática e a justiça climática que a Coalizão pensa e deseja. É uma justiça climática que amplia e incorpora vozes de mulheres negras, de pessoas quilombolas, de pessoas indígenas, periféricas, rurais e por aí vai. E pensar adaptação urbana a partir desse viés e desse olhar.
Bom, eu também quero falar de amor e da forma com que a gente faz política através do amor. A partir da experiência de mulheres negras e de uma ética do amor que a gente vem aqui falar sobre adaptação e participação política e social. Porque, a partir do olhar e da ótica das mulheres negras, não pensamos através de uma lógica individual, mas sim coletiva. Nós pensamos e queremos promover política pública para o bem viver, e o bem viver se configura de maneira coletiva.
Eu venho falar e dar ênfase também às pessoas dentro, para a gente pensar uma adaptação urbana das pessoas que estão em situação de rua e da ausência de dados dessas pessoas. Segundo dados da Casa Fluminense, em 17 municípios do Rio, três em cada quatro pessoas que estão em situação de rua são negras. Os maiores índices estão em Tanguá, Rio Bonito e Nova Iguaçu, que é um município vizinho do município onde eu moro, que é o município de Queimados, isso reflete e diz muito sobre como a gente pensa adaptação às mudanças climáticas no Rio de Janeiro, mas também no Brasil como um todo. E a ausência de dados também é um dado. A ausência de dados sobre a população LGBT que vive nas ruas, que vivencia o cotidiano nas ruas também é um dado, e eu estou aqui para falar sobre isso. Nós estamos no mês do orgulho LGBT, eu iniciei minha fala falando sobre uma ética do amor, e existem pessoas que estão em situação de vulnerabilidade numa cidade, num modelo hegemônico de cidade que não abarca e que não acolhe essas pessoas frente às mudanças climáticas. Isso também se configura em racismo ambiental e em justiça climática.
Bom, nós temos, enquanto sociedade civil, um papel de cobrar ao Poder Público, o papel de incidir e pensar num projeto de crise, porque estamos vivendo em um período de crise, de mundos em declínio. Então, nós estamos aqui também para falar sobre sonhar a partir do amor e de uma política do amor, e como é que a gente constrói novos modelos de mundo, e novos modelos de cidade.
E eu gostaria de falar também da sociedade civil como produtora de diagnóstico e de soluções com um olhar interseccional, com uma análise interseccional. Nós, às vezes, chegamos e produzimos diagnósticos que, às vezes, o Governo não chega, e nós estamos aqui também para auxiliar e para pensar política pública através desse olhar.
E eu também falo sobre as mulheres da Baixada Fluminense, as mulheres negras da Baixada Fluminense que sofrem com mobilidade urbana e, principalmente, em decorrência das chuvas do Rio de Janeiro. Os transportes sobrecarregam as nossas cidades. A cidade congestiona e essas mulheres têm que lidar com o trabalho, com, enfim, a jornada tripla das mulheres. E isso, a gente precisa implementar, a gente precisa pensar a adaptação urbana a partir desse viés e dessa ótica, de como as mulheres, o acesso e a mobilidade urbana das mulheres, como é que a gente já pensa uma adaptação às mudanças climáticas frente a esse olhar, a jornada tripla das mulheres. Uma mulher que tem que chegar em casa e tem que cuidar dos seus filhos, tem cuidar do seu lar e também tem que trabalhar no dia seguinte, às vezes na Zona Sul.
E eu venho a partir dessa ótica, e a coalizão traz o objetivo de construir e conversar com organizações que pensem e pautem uma adaptação urbana voltada para um olhar interseccional.

(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Agora, finalizando aqui os trabalhos da Mesa, quero convidar a fazer uso da palavra o Senhor Subsecretário Arthur Sampaio.

O SR. ARTHUR MIRANDA SAMPAIO – Boa noite, gente. Tudo bem?
Queria primeiro agradecer o convite, agradecer à Secretária, agradecer à vereadora e dizer que eu estou muito feliz com essa Mesa, com vários rostos conhecidos e essa plateia também com muitos rostos conhecidos, pessoas que me ensinaram muito ao longo desse processo, pessoas que estiveram comigo, muito feliz.
Como também fui convidado meio que agora, fui comandado pela nossa querida vereadora e comandante geral a fazer uma fala, mas quero fazer uma fala muito curtinha, porque acho que, enquanto Subsecretário, esse debate público, não é o meu momento, não é o lugar de fala da Administração Pública, porque não é sobre isso que nós estamos falando hoje. A audiência hoje é sobre a mobilização social, é sobre o trabalho que vocês fazem, é sobre o trabalho que as organizações do terceiro setor, as associações de moradores, os CPFs que estão aqui presentes fazem.
E quero dizer que, também como a minha companheira aqui de cadeira, a Mariana, falou, é a primeira vez sua e as que estão no lugar, é a primeira vez nossa também, a primeira Legislatura em que a gente faz parte do Executivo, a primeira Legislatura em que a gente faz parte do Legislativo também com a nossa vereadora. A gente veio até um pouco antes, mas também não foi muito depois, não. Acho que é um lugar que versa muito sobre o entendimento. Em minha opinião, ser gestor público à frente da Cidade do Rio de Janeiro – uma cidade que tem hoje 42% do seu território em unidade de conservação – é pensar o planejamento urbano da cidade e não só o planejamento ambiental, não só a conservação, não só a catástrofe. É pensar o direito à cidade porque, enfim, a gente vive hoje entre dois grandes morros: o Parque Nacional da Tijuca e o Parque Estadual da Pedra Branca. Acho que a gente precisa debater como, ao longo do tempo, vem tirando nossos corpos pretos, nossas caras, nossas figuras do centro desse debate, como nós temos excluído e sempre jogado o debate de mudanças climáticas, de catástrofes climáticas, para o futuro.
Falamos muito sobre o aquecimento global, se existe ou não, e que, no fundo, o debate climático, de mudanças, sobre o futuro, é um debate sobre a cidade, é um debate sobre a periferia, é um debate sobre a favela, é um debate de mobilização social para pessoas periféricas. Todas as nossas comunidades que estão aqui presentes, elas não sofrem no futuro, elas sofrem hoje. Elas sofrem hoje pela alteração das mudanças climáticas, mas também pelas catástrofes naturais que vivemos, pela falta de saneamento, pela falta de acesso, pelas ondas de calor.
A morte de uma jovem em um show devido ao calor extremo não deveria surpreender ninguém, porque se olharmos o bairro onde está localizado o local, a disposição da arborização urbana e as regiões verdes do entorno, perceberemos o porquê de ali estar tão quente. A catástrofe climática do Rio Grande do Sul é uma tragédia anunciada. Nossa posição aqui é fazer a discussão atrelada a nós. Fico muito feliz hoje de poder debater, discutir com vocês e também de estar à frente de uma pasta como uma pessoa que veio de um lugar de favela e de periferia.
Quando falamos de resiliência, a capacidade de resiliência da Cidade do Rio de Janeiro vem de suas favelas e, estrategicamente, das pessoas que mais sabem ser resilientes em todo esse processo. Somos nós, com capacidade de adaptação, criatividade, capacidade de se adaptar ao processo e resistir. São capacidades de pessoas de periferia – essa é nossa melhor qualidade.
Acho que estar à frente da Secretaria hoje, aos trancos e barrancos, com pouco orçamento – Prefeito, por favor, mande mais dinheiro! – e com todas as dificuldades que o Rio de Janeiro tem, que o setor imobiliário que não me ouça falar essas coisas, ainda assim é uma grande gratificação. É um trabalho que me orgulha muito e que me deixa muito feliz. Como eu disse, para nós, que ainda somos nacional e internacionalmente reconhecidos, o Rio de Janeiro é, de fato, uma liderança no debate sobre meio ambiente e clima. Temos o Centro de Operações, temos o programa dos mutirões, temos agora a formação de negociadores do clima, temos estratégias e planos de adaptação, mas estamos muito defasados.
O que temos hoje – falando enquanto administração pública – está muito defasado, porque o lugar do debate não pode ser conosco. A estratégia hoje, enquanto jovem negro à frente da Subsecretaria, é ser catalisador do debate que a sociedade civil coloca. Quando falamos de mobilização social, de territórios e de favelas, quem milita e é ativista comigo no dia a dia sabe que meu único papel é dizer: o que vocês estão produzindo e como podemos ajudar? Porque a administração pública hoje precisa pagar a conta, mas quem precisa produzir a política pública são as pessoas que pensam nisso no dia a dia nos espaços. A gente precisa ter um espaço de falar, sentar, aparecer, produzir, de fato, e decidir. Nós somos organizadores. A gestão pública precisa ser organizadora de um pensamento coletivo, precisa ser organizadora de um espaço e de um trabalho a partir de uma síntese coletiva, e essa coletividade precisa vir das periferias. É simples e natural.
Quero mais uma vez saudar e agradecer à Tainá, que gosta muito de mim, por isso me colocou na Mesa, mas não é o espaço da Secretaria. Peço vênia à minha Secretária Eliana, que está aqui em algum lugar, se falei alguma besteira. Depois brigue comigo, mas não me exonere, por favor. Dou vênia e voz a quem é da voz, a quem tem que ser homenageado, a quem precisa estar aqui, que são vocês.
Muito obrigado. Boa tarde.
(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Obrigada, companheiro de vários fronts e batalhas.
Vou pedir licença, agô a esta Mesa, para falar de pé. Antes das Moções, antes de passarmos à segunda etapa da nossa celebração, quero falar do dia. Acho que é um dia, não à toa, que escolhemos para falar com nossos ativistas climáticos, com nossos ativistas urbanos, ambientais e provocar – claro, a partir de uma singela homenagem – as discussões que vimos consolidando, refletindo e levando ao longo da trajetória nesta Legislatura. Mas, também, a Vereadora veio da Praça Seca, ela tem pressa, não é? Ela faz uma Legislatura muito desafiadora. Quero falar sobre a Legislatura pós-Marielle Franco, que acho que é uma Legislatura simbólica, de muito enfrentamento, muito debate, muita discussão reveladora em grande medida.
Acho que todos nós estamos acompanhando, em maior ou menor grau, o debate sobre a família Brazão e o que se encerra aos arredores da Tribuna Marielle Franco, o rosto dela aqui. Existe muito da trajetória das pessoas de favela e periferia acumuladas na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. E ser uma das mulheres negras dessa série histórica… Nós somos de uma geração de pioneiras – existe um pioneirismo nessa Legislatura de mulher negra – que enfrenta debates da vanguarda.
Eu começo falando muito a partir desse lugar. Porque falar de clima é falar sobre um tema que as pessoas comuns, o senso comum nega, rechaça, define como devaneio ou desimportância ou negacionismo ou até mesmo menor. Nós somos a vanguarda de um tempo de mais responsabilidade, de mais responsabilização, principalmente compreendendo quais são os maiores sujeitos impactados, vulnerabilizados no debate do enfrentamento da mudança do clima que fazemos.
Quando a gente reposiciona os sujeitos, quando a gente começa um processo de trazer favelados, periféricos, o terceiro setor, ONGs, associações de moradores, associações tradicionais, povos e comunidades tradicionais – recentemente, a gente criou o Conselho Municipal de Povos e Comunidades Tradicionais no Rio de Janeiro, antes tarde do que mais tarde –, a gente reposiciona o debate, a gente faz talvez próximo do que Mariana convocou, começou a mencionar aqui.
Quero complementar a fala dela, porque nós somos em grande medida o novo símbolo do que era o símbolo do urso polar ou do panda dos anos 80 e dos anos 90. Agora existe o ca
valo caramelo em cima de um telhado e agora existem as vozes negras que pautam a discussão climática, a discussão da mudança do clima e o debate ambiental.
Existe uma mudança geracional de enfrentamento, de letramento, de epistemologia. Eu odeio falar essa fala em público, porque obviamente está muito à frente e distante do nosso povo, da nossa gente, do nosso chão. Mas o que a gente está fazendo aqui é disputa de narrativa na veia. Nós estamos produzindo saberes que apesar… Aí, toda a minha gratidão pelos acumuladores da discussão climática, dos ativistas climáticos pioneiros. Quero saudar aqui Ana Toni, quero saudar os pioneiros do clima do Brasil. Mas quero dizer que, durante muito tempo, nós, os sujeitos do mundo real, os sujeitos que não estão na Zona Sul, que não estão abrigados e que não estão destinados a ser protegidos da mudança do clima, das mudanças severas climáticas, estávamos apartados das discussões centrais na mudança do clima e da governança ambiental e climática que queremos.
É claro que isso gera uma crise, gera uma crise tal qual observamos quando a Ministra Anielle Franco falou sobre o enfrentamento ao racismo ambiental. A crise, a cisão que se estabeleceu, inclusive dentro da academia, inclusive dentro dos setores públicos e privados, foi clara. Existe uma guerra de narrativas inclusive dentro do campo progressista, inclusive dentro dos aliados, inclusive do campo democrático, sobre o que importa mais e o que importa menos.
Na tarde de hoje, a gente participou de uma mesa organizada e dialogada no Fórum de Ciência e Cultura, na UFRJ, com parceria com a ActionAid, e eu provoquei uma discussão que eu venho provocando muito, porque não saí da Praça Seca para não fazer provocação, que era sobre o Jardim de Alah. Ah, você está mais preocupada com os parques da periferia e com a discussão do racismo ambiental do que com o Jardim de Alah. Estou mesmo. Acertaram. Chegaram à conclusão que eu não sou uma arquiteta e urbanista dos grandes salões da burguesia carioca, que nasceu abastada e morrerá abastada e protegida nos seus jardins, onde eles passeiam os cães. A mim não interessa.
Quero fazer uma discussão profunda sobre os parques urbanos de periferia, sobre os bolsões, os jardins drenantes, as soluções baseadas na natureza que nós precisamos pagar na periferia; antes tarde do que mais tarde, estamos fazendo é pouco. Se eu pudesse, faria Parque Realengo, Parque Senador Camará, Parque Inhoaíba, mas eu faria o Parque Bangu... Eu deixaria todos os bairros, a partir da Praça da Bandeira até o extremo oeste dessa cidade, até Paciência, um parque por bairro e por que não? Um hectare por bairro de área verde e área drenante para a nossa população periférica acessar, porque é exatamente isso que acontece do Centro para lá, do túnel para lá, todo bairro da Zona Sul tem um parque, uma área verde, uma área de costa para chamar de sua e que é altamente cuidada, que é altamente favorecida com os benefícios de infraestrutura que essa cidade extremamente coronelista e conservadora tratou de cuidar.
Num outro sentido, pensar nessa trajetória dessa figura que de ativista urbana e climática se torna a primeira secretária de meio ambiente e clima, negra, da história dessa cidade e, veja, há um sentido de extrema responsabilidade nisso, quero falar aqui em que pese eu não estou colocando um selo antirracista no Prefeito Eduardo Paes, ele tem que comer muito feijão com arroz para ser e para eu formular isso publicamente, mas é extremamente legítimo e importante que se afirme que são pouquíssimos municípios com a robustez e com a capacidade institucional econômica e financeira como o Rio de Janeiro tem que posicionam pessoas negras nesta pasta que é central para nossa população. Existe uma risca de giz da capacidade adaptativa, da capacidade restaurativa e da cobertura vegetal que a periferia tem na Cidade do Rio de Janeiro, hoje, para lidar com as suas questões. É muito importante ter figuras sensíveis, estudiosas, capacitadas e letradas nas entranhas das desigualdades ambientais e climáticas da cidade.
Num outro sentido, esse espírito da vanguarda... Eu me debrucei e me tocou muito a fala de Mariana porque a Mariana falou que tinha 30 anos, morri de inveja. Mariana, tenho 41 anos, deixei de ser jovem há muito tempo, mas eu aprendi que existe uma necessidade de uma ânsia de espírito do tempo que talvez seja da nossa ancestralidade, talvez seja da nossa altíssima capacidade de sermos mais resilientes dos que os demais porque sobreviver é uma capacidade de resiliência que é inegociável para nós, nós precisamos sobreviver e temos diversas estratégias para isso. E, se nós temos as tecnologias ancestrais de sobrevivência, nós somos os principais sujeitos e sujeitas políticas para construir trajetórias, tecnologias, engenharias de reconstrução e de adaptação para este novo tempo.
Portanto, pensar novas tecnologias. Quem pensa as novas tecnologias, quem questiona quais são e quem são os hidrologistas que não estão surpresos com o caos da engenharia do Rio Grande do Sul? Quem são os engenheiros e os arquitetos que não estão chocados com a necessidade da gente refazer a grande região do Acari? Quem são os ativistas, as figuras, os ambientalistas que estão preocupados com as matas ciliares que nós destruímos nos últimos anos, principalmente ao longo do século XX, nas margens dos rios de favelas e periferias. Quem são os sujeitos, meus queridos? É minha grande briga com o Presidente Lula. O Presidente Lula tem que conhecer essa galera das novas tecnologias, essa galera que ele formou: doutores, pós-doutores, engenheiros e arquitetos deste tempo, da universidade que ele abriu, em que ele apostou, que financiou e construiu. Estou falando de uma trajetória dos últimos 15 anos, que é legado.
Aí, quem não gosta do PT, vou ter que dizer: isso é coisa do PT. Esse acúmulo que constrói o clima de mudança, que constrói o LabJaca, que dá conta de construir as novas tecnologias sociais. Porque isso é muita tecnologia! Quem dá conta de formular isso são os sujeitos políticos do período democrático popular, que obviamente o PT ajudou a colaborar, e não consegue compreender que precisa beber dessa fonte, porque é a própria fonte que ele construiu. Axé, meu Pai! Clareia a mente do Presidente Lula e dos nossos ministros.
Em outro momento, quero encerrar a fala aqui passando para o que a gente precisa falar, que são as homenagens, reverenciar em vida é um troço que eu estou obcecada, pós-Marielle não tem mais esse papo de a gente não se amar, não se abraçar, dizer que você é incrível – não tem. Eu virei quase que obsessiva de falar para as pessoas da admiração, falar para as pessoas de como é importante falar e conectar os saberes que elas têm, que elas possuem.
Eu assumi um compromisso, na Secretaria, de pensar o que a gente deixa de legado. Porque é óbvio, gente, eu pego uma Secretaria com R$ 39 milhões em caixa. Hoje ela tem algo em torno de R$ 100 milhões em caixa. E, para adaptar o Rio de Janeiro nos próximos cinco anos, eu precisaria, por ano, de R$ 140 bilhões. Nesse sentido, estou dizendo a vocês: eu preciso de muito mais. Aí, eu preciso entender as duas frentes do que estou falando aqui. Uma é a frente de criar o novo senso comum.
Minha figura é muito pedagógica, é muito estimulante. No mínimo, a pessoa entra em choque: "O que essa mulher está falando? Eu tenho que parar para ouvir" e ser essa sujeita política pedagógica, o lugar que vou, sou ouvida, sou vista, eu sou, pelo menos, lembrada, faz com que eu tenha o sentido de responsabilidade de me replicar. O primeiro programa que nós instituímos na Secretaria de Meio Ambiente foi das Guardiãs das Matas. As guardiãs encerram o sentido de que as mulheres são 80% das pessoas, dos indivíduos deslocados nos territórios que passam por eventos extremos. São elas que, ao mesmo tempo, são as sobrecarregadas de reconstruir suas trajetórias, suas famílias, nos seus territórios. Essas mulheres precisam ser empoderadas. Eu não tenho problema nenhum de usar essa palavra, esse termo empoderamento. É poder mesmo. Eu sou uma mulher da política, eu gosto da palavra poder. Poder é bom e o povo precisa compartilhar esse negócio de poder. Poder é ótimo.
Existe um sentido estratégico da Ciência – que nos é negada. Eu demorei muito para conseguir falar o negócio de Global Stocktake. Demorei muito. Inglês tardio, ruim; mestrado tardio, precário, porque estava grávida, morava na Praça Seca, trabalhava em Nova Iguaçu, milhares de empregos. Uma formação péssima que, a duras penas, conseguiu dar início ao seguinte: eu preciso replicar, porque a próxima geração de gente como eu precisa ser melhor do que eu. E aí, ter hoje centenas de mulheres em território de periferia e favela sabendo o que é GE, o que é Global Stocktake, se preparando para o G20 e para a próxima COP, é revolucionário. Vocês me perdoem.
Em outro sentido, financiar quem já tem o entendimento, o mínimo letramento, e precisa estar nos espaços. Aí, muito provocada pelo Artur e por diversos coletivos que estão aqui, a gente cria os jovens negociadores pelo clima. Porque não há melhor disputa... Marcele não está aqui para eu falar para ela que foi incrível, nunca vi um dinheiro tão bem gasto na minha vida financiar um programa baixíssimo, do ponto de vista institucional. Mas que faz com que a dona Marcele, lá da Agenda Realengo 2030, fale para o Presidente Lula, no meio de Dubai, que ele está errado, que ele precisa fazer reparação climática. Não tem nada, não tem dinheiro que pague isso. Eu ia poder falar, é constrangedor, sou parlamentar dele, mas é muito importante que a juventude se engaje, se entranhe nos territórios e faça essa discussão.
Num outro sentido de Agenda, como a gente fala para os catadores, que são majoritariamente negros, como é que a gente dá recados para o novo senso comum, para uma transição de modo de pensar, de consumo e uso, e aí, a gente constrói a fábrica de economia circular, que é a Fábrica Verde? Como a gente pensa a regeneração dos nossos territórios criando um programa que, olha, não é simplesmente uma lógica ambiental a partir do plano de manejo que nunca virá? Como a gente fala que a sua favela, sim, pode ser uma floresta, num recado rápido, num entendimento sutil, num papo reto de pensar o seguinte: “Cara, nunca tinha pensado nisso”? Aquela Unidade de Conservação pode estar aqui. Isso aqui, Manguinhos, o Complexo do Alemão, a Maré já foi uma Unidade de Conservação e eu não sabia. Isso é muito importante, porque traz um sentido de reparação histórica. Poxa, eu morava na Rocinha, a minha bisavó morava na Rocinha e a gente tinha muito mais comida do que a gente tem hoje, porque a Rocinha era um grande cinturão verde alimentar. Poxa, eu nadava aqui, no Rio Maracanã, no Rio Acari, e hoje eu tenho medo desses rios. Hoje, eles não fazem parte da minha vida. Mas neste futuro, que essas novas vozes que estão se construindo, esse território vai fazer parte.
Então, eu quero agradecer aos técnicos, aos sabedores, aos construtores da vanguarda ambiental e climática brasileira que estão aqui. Gratidão, Motumbá, Mukuiú, Kolofé. Axé.

(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Ah, me emocionei! Estou feliz.
Quero, para reverenciar, convidar Naira Santa Rita, nossa primeira homenageada.

(Entrega-se a Moção)

(PALMAS)

A SRA. NAIRA SANTA RITA – Rapidamente, eu só quero agradecer. Eu brinco que a Tainá é uma grande mãe. Quando a gente fala dessa potência de nos aproximar e de abrir esses caminhos, não só ela, mas quem vem como você também – Raquel, Artur, Vagner –, enfim, todos que compõem esse todo que você é. E sou muito grata de receber isso vindo de você.
Então, muito obrigada.

(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Quero chamar aqui Maria Clara Salvador para receber também a sua Moção.

(Entrega-se a Moção)

A SRA. MARIA CLARA SALVADOR – Primeiramente, sou uma mulher de 22 anos, então, assim, a juventude hoje está aqui pautando e pautando o clima.
Quero agradecer à Tainá, porque você é uma inspiração, enquanto mulher negra, enquanto uma mulher bissexual, enquanto uma mãe, uma mulher periférica. E dizer também que eu sou de um território vulnerável a mudanças climáticas. E essa Moção também é sobre o meu território, é sobre as pessoas da minha cidade, é sobre a minha avó, que sofreu de ansiedade climática e perdeu tudo aos 90 anos, e mesmo assim resistiu mais 23 anos – faleceu com 103 anos.
Quero muito agradecer aos meus familiares, que estão aqui presentes, porque existiu uma força que veio antes de mim, uma força de mulheres negras, que estão aqui e que pautaram uma política do afeto, uma política do amor e o não um amor romântico, mas um amor enquanto categoria política. Então, muito obrigada.
(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Quero chamar aqui para esta homenagem a Senhora Mariana de Paula, citadíssima aqui na fala.
(PALMAS)

A SRA. MARIANA DE PAULA – Estava ali te ouvindo, Tainá, eu acho que vou reforçar o que as meninas falaram, com muita alegria, na verdade, eu me sinto novamente muito honrada de estar aqui, mas mais ainda que eu recebi o ilustre comentário de perguntarem se a gente era parente, porque nós temos o mesmo sobrenome. Mariana de Paula e Tainá de Paula. Eu falei: “Meu Deus, que sonho! Que honra!”. Mas saudar também esse sobrenome que eu carrego do meu avô, um homem negro retinto de Minas Gerais, que fez de tudo ali para pensar a educação como uma possibilidade para garantir que, através da educação, a gente tivesse o bem-viver.
Então, estar aqui hoje pensando e discutindo sobre o direito à cidade, sobre essas possibilidades de bem-viver para um debate composto por pessoas negras, por uma Mesa composta em sua maioria por pessoas negras é algo, assim, histórico, que eu sinto muita honra de participar. Então, te agradecer novamente.
O Arthur falou que não tem tanto tempo que vieram antes, mas vocês vieram antes e vocês estão abrindo portas para que a gente tenha incidência, que a gente tenha espaço, que a gente ocupe, que a gente traga a nossa voz, que a gente empodere a nossa voz, que sejamos, então, os sujeitos e protagonistas da nossa própria história, que ela não seja escrita a partir de outras lentes, outras óticas e outras mãos que não são as nossas, grande maioria desse país, desse estado e dessa cidade.
Então, extremamente feliz e honrada e obrigada.
(PALMAS)
(Entrega-se a Moção)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Agora, antes tarde do que mais tarde, o Senhor Lennon Medeiros, para receber essa homenagem.
(PALMAS)

O SR. LENNON MEDEIROS – Queria te agradecer, Tainá, porque acho que tem uma coisa eu estava reparando, assim, estou até com a voz um pouco embargada, que estava Mariana com os olhos marejados do meu lado, eu fiquei... Toda vez que você chegava um pouquinho, eu via as meninas atrás assim e olhava para os meus colegas que estão aqui e via todo mundo com o mesmo olhar vidrado, depois de um dia cansativo de trabalho, e isso é porque você inspira para gente coragem e dá para gente a possibilidade de ter imaginação política.
A gente cresceu achando que estava tudo dado. A gente entender que existe muito trabalho para ser feito e que esse trabalho tem unidade, tem coragem, tem território para retomar, para gente é uma grande inspiração. Então, regeneração para gente ter você como liderança. Obrigado.
(PALMAS)
(Entrega-se a Moção)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Antes que eu me esqueça, antes de a gente passar para as moções de reconhecimento e louvor, eu vou quebrar o protocolo, descer, ficar aqui bem blogueira, assistente de palco, falando com vocês lá de baixo, mas quero agradecer à equipe, que eu tive que abrir mão, abdicar, que ainda está na Secretaria de Meio Ambiente, se dedicando. Quero pedir uma salva de palmas para a Tatiana, que todo mundo conhece.
Quero falar aqui dos meus ativistas, que tocam a pauta da periferia e do racismo ambiental com brilhantismo. Ingrid Nascimento, muito obrigada. Daniele, muito obrigada. Quem mais tem aqui? Tem um bando de gente aqui. Amo todos vocês. Não quero esquecer de todos vocês. Quero agradecer Raquel, que sempre será uma pessoa participante integralmente desse processo, primeiro programa da Secretaria tem que ser para as mulheres. Ela estava certa. Foi muito importante, é muito importante a contribuição de Raquel.
Quero falar aqui da Secretária de Meio Ambiente, quero agradecer a Eliana Cacique, que está trabalhando enlouquecida aqui na Sala Inglesa. Muito obrigada pela sua competência, por triplicar o orçamento da Secretaria, por tirar dinheiro do Eduardo, que é um branco muito morrinha com a pauta climática e ambiental. Muito obrigada pela sua dedicação, pela parceria.
Não quero falar de todo mundo: Cainã, Maíra, Dani, que é outra mão-fechada com dinheiro, precisa dar mais dinheiro para os ativistas climáticos. Tem que dobrar a meta dos negociadores esse ano, tem que se virar. Quero, claro, agradecer a todos dessa construção: Felipe está aqui à frente da chefia de gabinete, Pedro, Michele, bravamente conduzindo todo o nosso time de burocracia enlouquecedora, porque é Câmara, Secretaria, o caos que foi nesses anos todos desta Legislatura. Todo mundo que constrói a Tainá de Paula, porque a Tainá de Paula, gente, é um CNPJ. Rute Sales está chegando agora. Estava trabalhando, não é, Rute Sales? Ela, que toca a pauta de favela. Deu conta brilhantemente do programa Guardiães das Matas. Minha gratidão, minha mais velha, minha griô.
Pronto, agradeci a todo mundo, agora vamos descer para abraçar mais gente. Quero aproveitar e saudar a presença do Senhor Cláudio Nascimento, querido! Presidente do Grupo Arco-Íris e conselheiro nacional LGBT. Nós temos que fazer essa parada maior do que a de São Paulo, hein? Quero agradecer ao Senhor Pablo Brandão, Subsecretário de Ação Territorial Solidária da Secretaria Municipal de Desenvolvimento. Obrigada, Pablo.
Agora, dando continuidade, quero chamar aqui a representante da ActionAid, que atua na luta em defesa da justiça climática e de enfrentamento do racismo ambiental, Ana Paula Brandão, por favor; Fabrícia Sterce, perdão pela pronúncia, não sei se estou acertando, fundadora e presidente da Visão Coop; a representação da Fundação Heinrich Böll, que atua em defesa da ecologia, da sustentabilidade, da democracia, dos direitos humanos e da justiça social; o Instituto de Políticas de Transporte, Desenvolvimento, ITDP, que atua na luta em defesa das políticas de transporte sustentável em todo mundo; Juliana Coutinho, pela sua atuação em defesa do meio ambiente e das ações climáticas para o mundo.

(Entregam-se as Moções)
(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – E, por último, mas obviamente não menos importante, a representação do Nossas. Minha querida, minha amiga, minha irmã, Áurea Carolina, representando o Nossas, instituição que atua para fortalecer a democracia e os direitos humanos em defesa da justiça climática, racial e de gênero.

(PALMAS)


A SRA. AÚREA CAROLINA – Minha irmã, não sei nem o que dizer. Gente, vocês não têm noção da emoção que estou sentindo. Meu Deus do céu, que honra, Tainá.
Boa noite a todos. Que momento tão lindo, tão precioso, a celebração de gerações, para chegar à emergência dessa geração maravilhosa de lideranças jovens, negras, periféricas, indígenas, quilombolas e LGBT, que estão revolucionando o sentido de justiça climática. Fico muito comovida, Tainá, porque você é mesmo uma força que nos inspira pelo exemplo e pela sua trajetória. O Nego Bispo ensina que a trajetória é o que nos guia, é o nosso legado. O legado é a trajetória, minha querida. quando você fala, eu me comovo também, porque você está caminhando para que a próxima geração seja melhor. Isso é de uma integridade e de uma generosidade que não conseguimos medir.
Tanto que ouvi aqui dos mundos em declínio, mas dos mundos que são retomados, outros mundos que são construídos, recuperados, regenerados. Algumas coisas têm que cair, outras coisas estão despontando lindamente com possibilidades. Muito mais do que proteger a vida, acho que é um sentido de amor. Fiquei muito feliz de ouvir isso, essa política dos cuidados, essa ética que, no fim das contas, justifica a busca de felicidade para a coletividade. O planeta é essa casa comum, nossos territórios são esse chão comum.
O Nossas é uma organização que atua há mais de 10 anos, no Rio de Janeiro e nacionalmente, trabalhando com comunicação estratégica, mobilização social e incidência política por causas democráticas. Desde que assumi a liderança da organização no ano passado, depois de ter passado pela política institucional, temos feito um esforço muito grande de reposicionar um pouco a nossa rota para ter um compromisso mais presente com a justiça climática, racial e de gênero. Construímos isso, lado a lado, em parceria e colaboração com quem é, com quem já faz, com quem cria essas soluções impressionantes, essas soluções que são tecnologias de muita inteligência, que são muito arrojadas para a proteção de nossas próprias vidas. É uma organização que está a serviço. É nesse sentido que me coloco aqui também como aprendiz, como alguém que quer estar muito junto e que coloca nesse esforço conjunto de nossa equipe maravilhosa o que temos de sangue, energia e amor para fazer acontecer.
Estamos com uma campanha nacional neste momento que trata da questão do auxílio financeiro para as vítimas dos eventos climáticos extremos no Brasil. É uma campanha proposta pela Plataforma Brasileira dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, que nos trouxe uma coalizão de várias organizações com muita experiência em defesa de várias agendas que são transversais ao nosso debate. Trata-se de como é importante ter políticas estruturantes e a questão do auxílio de médio e longo prazo para as famílias atingidas, fundamental no processo de reconstrução da vida, de regeneração, junto com todas as outras questões que nós temos trabalhado. Se puderem acessar a campanha Auxílio Climático Já, vai fortalecer demais. Ajudem a circular a palavra. É um pouco do nosso lugar de disputas de narrativa para posicionar também qual é essa outra perspectiva, quais são essas outras perspectivas que precisam coabitar essa grande luta.
Muito obrigada, gente. Tainá, eu te amo demais. Viva Marielle!
(PALMAS)

A SRA. PRESIDENTE (TAINÁ DE PAULA) – Quero agradecer a presença do grande Derê, meu grande amigo, referência de luta pela favela, das Brigadas Populares. Palmas para o Derê, gente!
Quero agradecer a todos que vieram. Encerro aqui esta Solenidade, agradecendo principalmente a esta Mesa e aos homenageados de hoje, dizendo que a luta não se encerra. Este ano é muito estratégico para nós, para o Rio de Janeiro, mas principalmente para o Brasil e, eu diria, para o Sul Global. O G20 aqui nos coloca em um sentido de grande oportunidade de incidência em massa direta, o deslocamento é mais facilitado, o nosso povo está mobilizado, tem secretaria aliada. Acho que é muito estratégico pensar no G20 casado com as nossas estratégias para as COPs. Essa COP aí, vamos combinar, é uma prévia, mas a fundamental para nós e a mais estratégica, é a COP 30. Acredito que o Rio de Janeiro, não quero dar spoiler, mas terá um papel e um peso muito importantes na COP de Belém, sem dúvida alguma.
Meus queridos, boa noite, voltem bem e estaremos sempre juntos. Obrigada mais uma vez.

(Encerra-se o Debate Público às 20h32)