Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
O presente Projeto de Lei visa a prestar homenagem a Carlos Eduardo Barcelos Sabino, mais conhecido como Cadu Barcellos, jovem negro, morador da Maré, que nasceu em 21 de julho de 1986 e morou na comunidade do Conjunto Pinheiro desde que nasceu. Ele é filho de Dona Neilde Gomes Barcelos e William da Silva Domingos, seu padrasto que o criou desde os dois anos de idade, irmão da Letícia Barcellos, além de companheiro da Gabi Alves, com quem teve um filho lindo chamado Bernardo Alves.
Cadu tinha trinta e quatro anos, carregava sorriso no rosto, simpatia e alegria no bolso quando foi assassinado em 10 de novembro de 2020. Parece que Cadu, apelidado na infância de Di, Dado, Papel, nunca deixou de ser aquela criança que gostava de jogar bola, brincar na rua e soltar pipa! A sua mãe e seus amigos contam que, quando criança, ele tinha a mania de pegar a areia do bloco (conjunto de prédios) onde morava no Conjunto Pinheiro e levar para a comunidade do Marrocos - que tinha um terreno alagado - para fazer campo de futebol e jogar bola com seus amigos. Cadu fez sua primeira comunhão na Igreja Sagrada Família, em Nova Holanda, e foi coroinha na Igreja José Operário, na Vila dos Pinheiros. Ele estudou na Escola Municipal Anibal Freire e no Colégio Estadual Antônio Prado Júnior. Cadu foi um homem apaixonado pela vida e encontrou na arte uma forma de comunicar a sua alegria, o seu saber e mais falar da sua favela.
A sua primeira experiência com a arte foi através da dança, integrando o Corpo de Dança da Maré, com espetáculos que rodaram o país por três anos. Depois se formou na Escola Popular de Comunicação Crítica (ESPOCC), do Observatório de Favelas e na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. A sua formação em cinema e comunicação popular permitiu que ele fosse direto do curta “Feira da Teixeira”, produzido pelo Observatório de Favelas, do programa “Crônicas da Cidade”, exibido no Canal Futura, para o longa "5X Favela - Agora Por Nós Mesmos" - uma releitura do filme "Cinco Vezes Favelas" de 1962, dirigido por Cacá Diegues, que foi escolhido para a seleção oficial do Festival de Cannes de 2010 e ganhou os prêmios de melhor filme ficção – pelo júri oficial e popular, melhor atriz e ator coadjuvante, melhor roteiro, melhor trilha sonora e melhor montagem no Festival de Paulínia de 2010. Em 2012, esteve presente na produção de “5x Pacificação”. Em 2013, gravou a vinda do Papa ao Brasil e, em 2014, participou da equipe de pesquisa do documentário “Favela Gay”. Cadu viajou para Argentina, Alemanha, Portugal e França e alguns lugares do Brasil para falar da sua arte e, principalmente, da favela.
Ele foi professor de audiovisual durante um ano e o seu dom carismático o ajudou a fundar um dos maiores coletivos de comunicação popular da Maré, o “Maré Vive”. Além da sua ligação com o cinema, dança, comunicação social, professor e cozinheiro Cadu também, tinha ligação com a música e, ainda jovem, montou uma banda. Na vida adulta, ele foi diretor artístico do grupo de pagode “No Lance”. Como favelado, desenvolveu a arte de aprender várias profissões no mundo e, também, foi coordenador do projeto “Jpeg”, da ONG Promundo, no qual liderava grupo de jovens que promovia ações ligadas à saúde e à equidade de gênero.
Favelado precisa, normalmente, correr muito atrás para poder realizar os seus sonhos e, às vezes, corre tanto que se machuca e acaba atenuando os seus desejos. Mas, mesmo machucado, Cadu seguiu com o apoio dos amigos e familiares e vivia a fase de ver as feridas da vida se curarem, atuando como assistente de direção no programa “Greg News”, do canal HBO.
Diante disso, a pergunta que não se cala: será que todas as vezes que um favelado estiver realizando o seu sonho - e sendo feliz - ele terá a sua vida interrompida?
Cadu foi assassinado na noite do dia 10 de novembro de 2020, depois de sair de um samba no Centro do Rio. A sua morte causou muita indignação e grande comoção social, pois Cadu era uma potência, parceiro, amigo maravilhoso, filho carinhoso, irmão cuidadoso, pai e marido atencioso. Cadu amou e foi muito amado.
Considerando que a cultura da favela diz que “cria não morre, vira lenda” e segundo ele próprio dizia que “é nós por nós”, além de acreditar que os seus sonhos e o seu legado está sendo eternizado proponho, por meio do presente Projeto de Lei, que a área conhecida como Parque Ecológico da Vila dos Pinheiros, ou Parque Ecológico da Maré, comunidade onde nasceu e viveu venha a se chamar Parque Ecológico Cadu Barcellos. Texto Original:
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01.:Comissão de Justiça e Redação 02.:Comissão de Educação